Papo cabeça

Esses dias Jamile quis ir ao McDonald´s e eu recusei algumas várias vezes até que resolvi ceder e fazer a vontade dela.

Antes de continuar a pequena crônica, cabe um parêntese aqui sobre fast food e crianças. Eu não gosto, não recomendo e evito. Mas não tive força de vontade suficiente para excluir do cardápio.

Na verdade eu gosto sim de comer hamburguer, batata frita e todo o resto. Mas não considero nada nutritivo e não gosto de incentivar a Jamile a comer. Infelizmente, meu amado marido fez com que ela associasse o terrível lanchinho ao brinquedo que eles botam junto e a criança foi fisgada. Agora só me resta controlar o consumo.

Enfim… voltando ao início da história, lá fomos nós ao McDonald´s saciar a vontade da bonita. Chegando lá, descobri que o brinquedo era uma miniatura de um furby, aquele bichinho peludo de cores extravagantes. Ela tinha visto a propaganda na TV e por isso queria desesperadamente “comprar” o tal lanche.

Na volta pra casa, eu dirigindo e Jamile no banco de trás com a caixinha do lanche. Aí veio o diálogo:

– Mãe… eu pensei que ele era maior…

– Quem, filha?

– O furby… eu vi na televisão e pensei que ele era grande, mas não é.

– Hummm, entendi… Sabe que a gente tem que ter muito cuidado com essas coisas que a gente vê na televisão. Agora você entende quando você pede algum brinquedo e a mamãe fala que ele não é assim tão legal ou é caro demais e não vai te agradar.

– Por que?

– Porque a televisão aumenta um pouco as coisas, faz o brinquedo parecer maior ou mais legal do que ele realmente é, assim como aconteceu com o furby.

– Então eles mentem?

– Mais ou menos… é como se fosse mesmo uma mentira.

– Então a gente tem que fazer o que? Tem que quebrar a TV?

– Não, não precisa tanto… rs…. A gente tem que ver as coisas na TV com senso crítico.

– O que é isso?

– Senso crítico é você não acreditar em tudo o que vê, é analisar bem o que está sendo mostrado na TV antes de resolver comprar alguma coisa.

– Ahhhhhh booom. Tá bom.

E assim vamos educando… É tanta coisa importante pra ensinar… Isso que eu não contei pra ela que eu estudei Publicidade, ou seja, eu me especializei em contar essas mentiras todas que a TV mostra.

É por essas e outras que eu digo que a maternidade faz da gente um cidadão melhor. Sou publicitária e sou contra propaganda infantil. Os defensores dizem que é dever dos pais controlar o que o filho vê ou não, é dever dos pais ter o diálogo que eu tive acima e controlar os ímpetos consumistas das crianças.

O diálogo deve sempre existir, o senso crítico deve ser ensinado, mas é dever da sociedade zelar pelo bem estar das crianças e jovens como um todo. É muito injusto jogar essa responsabilidade única e exclusivamente para os pais, sendo que existe todo um trabalho neurológico de bilhões voltado para explorar as fraquezas de quem está diante da tela da TV.

Eu sei disso, eu já fiz isso. E não acho justo.

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