O fim

O meu pai está morrendo. E hoje eu fui me despedir dele. Olhei pra ele e o encontrei tão frágil no leito do hospital, cercado de fios, cânulas, monitores. No momento em que olhei pra ele, eu soube que ele já não estava mais ali. Não o meu pai. Ali jazia o seu corpo debilitado, machucado pelos problemas de saúde e pelos cuidados médicos. Mal consegui tocá-lo. Fui fraca. No caminho para o hospital, ensaiei coisas que eu tinha para dizer, aquelas coisas bonitas e fortes que esperam que você diga num momento como esse, de despedida. Mas não disse. Pensei nelas enquanto olhava para aquele farrapo humano que o meu pai se tornou. Pensei que se eu mentalizasse bem forte talvez ele pudesse, de alguma forma, escutar. Ou pelo menos sentir. Esse é agora o meu desejo. Que os meus pensamentos tenham chegado até ele. O que eu queria dizer é que ele pode partir sossegado tendo a certeza de que nós, que ficamos, estamos bem e vamos seguir as nossas vidas dentro dos valores que recebemos. Que sua missão foi cumprida e que agora ele já pode se libertar dessa matéria que restou. Vai pai, vai tranquilo, vai sem medo. Eu não sei se ele tinha medo da morte… Eu não tive uma relação muito próxima com ele na minha vida adulta. Eu fui a filha que eu podia ser para o pai que ele foi para mim. E não, eu não me arrependo de como conduzi essa relação. Eu não queria voltar no tempo e fazer diferente. O que eu queria era fazer diferente daqui pra frente. Era ter mais tempo, era ter dado para ele um fim de vida mais tranquilo do que esse que ele teve. Eu estava disposta a fazer isso e hoje, a dor que eu sinto é pela filha que eu podia ter sido se ele tivesse ficado um pouco mais entre nós. Vai pai, pode partir tranquilo. Mesmo que eu tenha te abraçado tão pouco e te amado tão pouco também em determinados momentos das nossas vidas, você merece o melhor de mim nesse momento. O meu respeito, o meu carinho, as minhas lágrimas. E agora vai.

Papo cabeça

Esses dias Jamile quis ir ao McDonald´s e eu recusei algumas várias vezes até que resolvi ceder e fazer a vontade dela.

Antes de continuar a pequena crônica, cabe um parêntese aqui sobre fast food e crianças. Eu não gosto, não recomendo e evito. Mas não tive força de vontade suficiente para excluir do cardápio.

Na verdade eu gosto sim de comer hamburguer, batata frita e todo o resto. Mas não considero nada nutritivo e não gosto de incentivar a Jamile a comer. Infelizmente, meu amado marido fez com que ela associasse o terrível lanchinho ao brinquedo que eles botam junto e a criança foi fisgada. Agora só me resta controlar o consumo.

Enfim… voltando ao início da história, lá fomos nós ao McDonald´s saciar a vontade da bonita. Chegando lá, descobri que o brinquedo era uma miniatura de um furby, aquele bichinho peludo de cores extravagantes. Ela tinha visto a propaganda na TV e por isso queria desesperadamente “comprar” o tal lanche.

Na volta pra casa, eu dirigindo e Jamile no banco de trás com a caixinha do lanche. Aí veio o diálogo:

– Mãe… eu pensei que ele era maior…

– Quem, filha?

– O furby… eu vi na televisão e pensei que ele era grande, mas não é.

– Hummm, entendi… Sabe que a gente tem que ter muito cuidado com essas coisas que a gente vê na televisão. Agora você entende quando você pede algum brinquedo e a mamãe fala que ele não é assim tão legal ou é caro demais e não vai te agradar.

– Por que?

– Porque a televisão aumenta um pouco as coisas, faz o brinquedo parecer maior ou mais legal do que ele realmente é, assim como aconteceu com o furby.

– Então eles mentem?

– Mais ou menos… é como se fosse mesmo uma mentira.

– Então a gente tem que fazer o que? Tem que quebrar a TV?

– Não, não precisa tanto… rs…. A gente tem que ver as coisas na TV com senso crítico.

– O que é isso?

– Senso crítico é você não acreditar em tudo o que vê, é analisar bem o que está sendo mostrado na TV antes de resolver comprar alguma coisa.

– Ahhhhhh booom. Tá bom.

E assim vamos educando… É tanta coisa importante pra ensinar… Isso que eu não contei pra ela que eu estudei Publicidade, ou seja, eu me especializei em contar essas mentiras todas que a TV mostra.

É por essas e outras que eu digo que a maternidade faz da gente um cidadão melhor. Sou publicitária e sou contra propaganda infantil. Os defensores dizem que é dever dos pais controlar o que o filho vê ou não, é dever dos pais ter o diálogo que eu tive acima e controlar os ímpetos consumistas das crianças.

O diálogo deve sempre existir, o senso crítico deve ser ensinado, mas é dever da sociedade zelar pelo bem estar das crianças e jovens como um todo. É muito injusto jogar essa responsabilidade única e exclusivamente para os pais, sendo que existe todo um trabalho neurológico de bilhões voltado para explorar as fraquezas de quem está diante da tela da TV.

Eu sei disso, eu já fiz isso. E não acho justo.

Das merdas que a gente ouve por aí

Essa cronicazinha aconteceu há alguns meses, mas os efeitos do ocorrido permanecem na minha cabeça até hoje.

Um belo dia Jamile ficou doente, resfriado, febre durante a noite e passamos a madrugada acompanhando a temperatura e dando medicação. Na manhã seguinte, achamos melhor deixá-la em casa, não foi pra escola.

Passou o dia bem, mas na noite seguinte febrão novamente, mais uma noite mal dormida onde os pais ficaram ali na angústia acompanhando e medicando.

Na hora que levantei para trabalhar (às 4h30 da manhã), conferi a temperatura mais uma vez e mediquei mais uma vez. Acordei o marido e avisei que a febre não estava cedendo, portanto era melhor levar a pequena no médico.

Duas noites seguidas com febre alta não é coisa pra ficar dando jeito em casa, né. Maridones querido, esperou até o horário que ela geralmente acorda, ali pelas 8 ou 9 da manhã e rumou para o pronto socorro.

Fiquei acompanhando tudo pelo WhatsApp. A médica diagnosticou como um resfriado comum, passou algumas orientações, receita com os remédios que deviam ser dados e atestado de 2 dias para repouso.

Até aqui, nada de estranho ou incomum no dia a dia da família brasileira, certo? Quando saí do trabalho e encontrei o marido pessoalmente, quis saber todos os detalhes da consulta, coisa de mãe, coisa de Lene, coisa de gente.

E foi então que ele me contou que, ao entrar no consultório, rolou o seguinte diálogo:

Médica: – Então… e vc quem é?

Marido: – Eu sou o pai.

Médica: – E onde está a mãe??

Marido se irritou com a pergunta, ignorou e seguiu falando sobre os sintomas, os remédios que Jamile estava tomando, como se nada tivesse acontecido.

Agora pensa no tamanho da fúria que brotou dentro do meu ser ao ouvir isso. Fiquei pensando em quantas vezes, ao entrar num consultório médico com a minha filha, fui questionada onde é que estaria o pai da criança. Zero. Nenhuma vez, nunca.

Por que diabos isso foi questionado ao meu marido? Porque segundo o imaginário da sociedade machista e retrógrada em que vivemos, os pais não levam seus filhos ao pronto socorro quando existe uma emergência. Isso é coisa de mãe, obrigação de mulher.

Onde já se viu uma criança doente ser levada ao médico pelo seu próprio pai, igualmente responsável por sua criação e bem-estar, enquanto a desnaturada e insensível da mãe sai tranquilamente para trabalhar!

Mas o pior do pior de tudo isso, gente… é que foi uma mulher que protagonizou essa cena. E isso é de cair o cu da bunda.

Graças a Deus, tenho um marido que é pai consciente do seu papel de responsável pela nossa filha. Ele não “ajuda” com a Jamile, ele é pai dela, ou seja, ele sabe que precisa garantir que ela se alimente bem, que tome banho, que escove os dentinhos, que esteja na hora certa na cama e todas as coisas normais dentro do cotidiano de uma criança, mesmo que eu não esteja lá para dizer que isso precisa ser feito.

E ele vai continuar levando nossa filhota ao médico sempre que for preciso porque ele é o pai dela, ele não é um item de decoração dentro da nossa casa. E eu espero que essa médica, que graças aos céus eu não tive o desprazer de conhecer, abra essa cabeça retrógrada enquanto é tempo.

Se me permitem dar uma dica…

Dia desses eu e uma amiga estávamos relembrando os momentos em que conhecemos nossos filhos. Ela também é mãe por adoção, de dois, e teve a sorte de ter junto com ela e a esposa, uma pessoa super especial que filmou o exato momento em que elas conheceram o segundinho.

Ai, gente, como eu queria ter registrado esse momento com Jamile… Claro que guardo na memória a sensação e, se eu fechar os olhos, ainda consigo rever eu e marido sentados num sofá meio amarelo, nervosos a perder de vista, até que entra uma moça (a assistente social do abrigo) trazendo Jamile pela mão.

Ela estava com um vestido branco e lilás, tinha lacinhos no cabelo, duas xuquinhas espetadinhas, um olhar super desconfiado e quando nos viu, a primeira coisa que ela fez foi se esconder atrás das pernas da assistente social. Até hoje ela faz isso quando fica envergonhada ou tímida.

A questão é que para os pais esse momento é de muito nervosismo, a gente mal consegue se aguentar em pé. É tanta coisa pra pensar, algumas de ordem prática, a dispensa no trabalho, a cadeirinha pro carro, roupinhas, comidinha, outras de ordem emocional, os sentimentos de euforia e medo que a gente tem…

Até parece que alguém vai conseguir pensar em fotografar ou filmar qualquer coisa! E, apesar de a gente ter certeza absoluta de que aquela criança vai ser nossa sim, independente de qualquer coisa, a gente fica super inseguro, pois o processo de adoção ainda tem outras etapas e a gente se sente observado e avaliado o tempo todo.

Então, se eu posso dar uma dica para quem está no processo de adoção, invista em alguém que registre tudo o que for possível pra você. Alguém que possa ir junto e fotografar, filmar e que depois compartilhe com todo mundo por muitos e muitos anos. Vai valer a pena!

Vamos falar sobre sexo?

Escuta, vamos falar sobre sexo? Obaaaa, então vamos! Eu venho de uma família bem tradicional onde sexo sempre foi tabu. Lá na minha casa não se falava abertamente sobre sexualidade, na verdade, não se tocava no assunto de jeito nenhum. Era como se sexo não existisse. A gente sabia que existia, mas não falava sobre isso.

Minha mãe tinha uns conceitos muito bem definidos sobre sexualidade e sobre o que isso representava: problema. Eu cresci com uma noção bem torta sobre o assunto. Era feio e vulgar ser sensual, era um crime ter desejo sexual, suas partes íntimas deviam ser guardadas a sete chaves ou você ficaria falada, seria chamada de nomes horríveis e cairia em desgraça. E olha que eu nasci no final dos anos 70 e começo dos 80.

Quando comecei a crescer e me desenvolver, é óbvio e natural que venha a curiosidade pelo namoro, beijo, corpo, sexo. E eu morria de vergonha disso, tinha vergonha de ser sexuada, pois sentia os olhos da minha mãe me julgando.

Quando adolescente, não podia usar roupas que fossem provocantes, não podia usar maquiagem, não podia usar esmalte escuro. Não podia nada. Ou isso tudo seria interpretado como falta de decoro, moças decentes não fazem essas coisas. Moças decentes se cuidam para ficar limpinhas, mas não são vaidosas.

O que isso fez por mim? Dificuldades para conhecer meu corpo, para lidar com a minha sexualidade, muitos entraves nesse item e muitos problemas de entendimento com o sexo oposto. E foi aí que eu fiquei pensando por qual motivo homens e mulheres têm uma noção tão diferente sobre sexo.

Vamos analisar como é que a nossa sociedade vem educando meninos e meninas sobre o assunto. Meninos são estimulados a falar sobre sexo desde que nascem. É um orgulho falar dos genitais masculinos, “tem o saco roxo”, “é bem dotado”, ninguém tem vergonha de falar de pinto, já notaram?

O menino cresce e desde cedo é estimulado a ter desejo sexual, a ter namoradinhas na creche, a olhar e cobiçar as mulheres. Eu tenho dois sobrinhos, gente, e me lembro que o pai de um deles mostrava fotos de catálogos de lingerie pro menino e dizia “olha, filho, a gostosona”. Detalhe: meu sobrinho mal sabia falar, ele devia ter uns 2 anos.

A medida que o menino cresce tem liberdade total para lidar com seu corpo, é normal se tocar, se masturbar, acordar de barraca armada, é saudável. Tem até a obrigação de deixar de ser virgem! Não se deu bem com as amiguinhas? Então ia pra um puteiro perder a virgindade, questão de honra! E assim começa a relação dos homens com o sexo, de maneira bem objetificada, seu prazer em primeiro lugar, seu desejo é sempre uma ordem.

E, claro, tem a pornografia. Meninos também são estimulados desde sempre a ver pornografia, mas não sabe que pornografia não é sexo. Eles acham que é, têm certeza absoluta que todo mulher adora transar daquele jeito, faz aquelas caras e bocas, aquelas posições, aquelas situações. E é isso que eles levam para os relacionamentos. A esposa tem que ser uma dama na sociedade e uma puta na cama.

Voltamos então para a criação das mulheres. Ao contrário dos meninos, as meninas não são exibidas entre os familiares sem roupa. Não, menina tem que estar bem protegida, bem coberta, bem escondida. Todo mundo fala de pinto, mas ninguém fala com tranquilidade sobre vagina. Eu hein, coisa feia.

Menina não pode se tocar, não pode namorar, não pode ter desejo sexual, tem que ser recatada, tem que se guardar para o amor da sua vida, tem que ser virgem, não pode ficar se agarrando com qualquer um por aí. Menina não vê pornografia, é como se sexo não existisse, ninguém explica como é que vai rolar, ninguém estimula menina a sair pegando geral, é feio, fica falada.

Menina cresce ouvindo piadinhas de que o pai vai assustar todos os namoradinhos, que ela é bonita demais e vai dar trabalho, que só vai poder namorar depois dos 30 anos. Ela tem que se valorizar, se dar ao respeito, ser durona, não liberar geral.

Menina lê romances onde a primeira vez vai ser mágica, o parceiro vai ser carinhoso, vai tratá-la com devoção e respeito. Menino vê pornografia e tem em mente que sexo bom é assim. Precisa falar mais nada, né.

Claro que a gente cresce, descobre que as coisas são diferentes do que pregaram os nossos pais, do que a sociedade impõe, aprende mais sobre sexo, conhece o próprio corpo, descobre o que gosta e o que não gosta. Mas o estrago já está feito. A falha de comunicação com o parceiro parece que vai ser eterna. Vamos pensar sobre isso e rever a educação sexual das crianças? Eu já comecei aqui na minha casa.

Bem-vindos ao primeiro ano!

Jamile está prestes a completar 6 anos. Uau, o tempo passa depressa demais… E 2017 é o ano de uma mudança de grande importância para a nossa família: Jamile começou o ensino fundamental! A pequena está no 1o ano!!!

Pra mim é um grande marco, o início da vida escolar propriamente dita, com responsabilidades, rotina, alfabetização pra valer, coisa de “criança grande”. Arrisco dizer que eu estava mais ansiosa com isso do que ela.

Ela não é uma criança muito tranquila com mudanças, então fui preparando o espírito da criatura já no final do ano passado. Optamos por matriculá-la na escola pública, uma escola municipal que fica a 1km de distância da nossa casa, com uma estrutura pequena, são apenas 6 salas de aula, sendo uma turma de 1o ano de manhã e outra à tarde.

A aula começa às 8h e termina ao meio-dia. Papai vai levar e eu, a princípio seria responsável por ir buscar, mas preferi contratar um transporte escolar e evitar qualquer atraso da minha parte. Mais uma novidade na vidinha dela, é a primeira vez que ela usa transporte escolar.

A primeira semana de aula foi um pouco “dolorosa” por conta de tantas novidades: amigos novos, ambiente novo, professora nova, rotina nova. Na 4a feira ela já chegou reclamando, na 5a feira chorou e não queria ir, na 6a feira voltou dizendo que o dia tinha sido legal.

Ela me contou que ficava um pouco nervosa com a escola, tinha vergonha de falar com a professora, vergonha por não conhecer ninguém. Morri de pena e bateu aquele sentimento de proteger a cria do mundo todo. Ah se a gente pudesse sofrer por eles ou pular essa parte…

Eu disse pra ela que se sentir assim é super normal, mas que esses sentimentos iam diminuindo à medida que os dias iam passando. A cada dia de aula, ela ia se sentir mais segura, menos nervosa e menos envergonhada. Até que um belo dia, ela nem ia lembrar que já tinha se sentido assim. Um passo de cada vez, filha

Ontem tivemos a primeira reunião do ano com o objetivo de apresentar as diretrizes gerais da escola, falar sobre o processo pedagógico, apresentar os funcionários e passar recados importantes. Gente, eu adorei tudo!

Adorei a forma como a alfabetização será conduzida e o fato de que não existe ainda uma grande quebra do lúdico e das brincadeiras com que eles estão acostumados na educação infantil. O fato de termos optado pela escola pública vale um post só sobre isso que eu faço depois.

Resumindo, voltei pra casa com o coraçãozinho aquecido, menos preocupada e certa de que foi uma boa escolha. Mas, como tudo na vida, só o tempo vai dizer…

 

Coisas de criança

Sabe aquelas coisas que a gente faz quando é criança e os parentes adoram contar para os amigos e namorados(as) como se fosse muito bonitinho, mas na real mata a gente de vergonha???

Pois então, vou começar a montar o dossiê vexatório da Jamile, afinal tradição é tradição, né… kkkk

  1. O dia que ela pegou minha necessaire de maquiagem e fez um make-up muuuito moderno ficando com a cara toda pintada de rímel e batom. Tirar todo aquele rímel deu um trabaaaaalho…
  2. O dia que ela maquiou o nosso gato. O bichano é branco e qual não foi a minha surpresa ao ver que ele estava com a cara toda cor de rosa.
  3. O dia que eu a peguei tentando colocar um vestido de boneca no gato. Pobre bichano…
  4. O dia que ela ganhou uma tiara da Minnie (com orelhas e laço), rabiscou os olhos, ponta do nariz e as bochechas com canetinha preta, pulou na minha frente e disse: mãe, eu sou a Minnie!!!
  5. O dia que ela, motivada por essas crianças metidas a youtubers, fez o seu primeiro vídeo com o meu celular. Ela estava no banheiro, fazendo o nr2 e registrou, entre outras coisas, o cocô e o processo de limpar o bumbum. Morri!
  6. O dia que ela quase explodiu o microondas. Ela colocou água e sabão numa mamadeira e colocou pra esquentar no microondas com o objetivo de dar o “leitinho” pra boneca. Porém a mamadeira estava tampada e ela botou 10 minutos no visor o que fez o plástico derreter e ela praticamente explodir. Quase morremos de susto.

À medida que eu me lembrar de outros episódios, vou aumentando a lista. A zoeira não tem fim, não é verdade?

A dentista da Jamile

Talvez a maioria das pessoas que me lê não sabe, mas Jamile é banguelinha desde sempre. Foi assim, quando ela ainda estava abrigada, poucos meses antes de chegar na minha vidinha, ela caiu de um cadeirão e quebrou o dentinho da frente com a queda.

Que dózinha, né. Enfim, a verdade é que nós já a conhecemos banguelinha, não fazemos nem ideia de como é a fisionomia da Jamile com o sorriso completo. E como houve esse “trauma”, desde sempre eu achei importante fazer um acompanhamento no dentista, tirar radiografia, ir acompanhando a dentição dela.

Quando eu ainda trabalhava lá naquela empresa inominável, encontrei uma dentista bem pertinho do escritório e da escola da pequena. E foi tipo assim, na sorte mesmo, abri o livrinho do convênio, fui procurando os locais mais próximos, liguei, tinha data e horário bacana, agendei.

E gente, eu tive a sorte de encontrar uma pessoa incrível exercendo essa profissão do capeta. Vamo combiná que dentista não é coisa muito agradável de se ir, néam? Primeiro que a gente tem uma mania de só aparecer no consultório quando a coisa tá feia, sentindo dor, perdendo os dente tudo. E aí não tem como sentir amor pela pessoa que futuca e conserta a nossa dentadura.

Mas a dentista da Jamile é uma coisa de tão fofa que ela é. Primeiro que o consultório dela é cheio de bichinhos de pelúcia, enfeites infatis, adesivos e desenhos que os pacientinhos dela fizeram e ela deixa espalhados pelas paredes. Como que uma pessoa não se sente acolhida? Não tem como!

Aí ela senta a criançota na cadeira (aquela abominável) e mostra todos os aparelhinhos que ela vai usar, explica como que ela vai escovar cada dentinho, diz que não vai doer nadinha de nada, dá espelhinho em formato de dente pra pequena ir acompanhando os trabalhos. Só aí eu já morri de amores.

Durante toda a consulta ela vai conversando, elogiando (ou não) a escovação, trata a pequena com a maior consideração. Por fim, depois que a consulta termina, ela abre uma caixa mágica cheia de brinquedinhos e adesivos e diz que a Jamile pode escolher qualquer um pra levar pra casa. Gente, é ou não é a verdadeira “fada do dente”?

E, detalhe, ela é uma mocinha, cara de recém-formada, não deve ter nem 30 anos. Mesmo estando num bairro que agora fica longe pra ir, eu continuo fiel e uma vez a cada 6 meses estamos lá batendo cartão na consulta de rotina. Dra. Carol, a gente te ama!

Diálogo

– Mãe, o que é “pariu”?

– Hein????

– O que significa “pariu”?

Demorei alguns minutos pensando em como responder e já sabendo que isso não ia terminar bem…

– Pariu é quando um bebê nasce, quando uma mulher tem um filho e ele sai da barriga dela.

– Hummm…. E o que é “puta”? Puta que pariu?

Eu sabia que era justamente aí que a gente ia chegar. Malditos palavrões que eu tento não falar, mas sempre escapam. Pensei mais um pouco e respondi:

– É uma mulher muito malvada que pariu uma criança.

– Ahhh… E quando o bebê vem de fora da barriga?

– Como assim, Jamile?

– Quando a pessoa compra um bebê… que nem foi comigo, você foi lá e me pegou…

– Nãooooo, filha, ninguém pode comprar um bebê!!!

Fiz uma cara exagerada de desespero e ela começou a rir. Continuei a explicação:

– Quando um bebê entra numa família que nem você entrou, a gente fala que ele foi adotado. Você foi adotada, ok?

– Ahhhh, tá bom.

Essa  minha filha é mesmo uma figura…

Eu e a magrela

Quando eu era solteira, houve um tempo em que eu me encantei por andar de bicicleta. Comprei uma de segunda mão, não sabia nem trocar as marchas, mas resolvi que ia aprender a usar a bike e fazer dela o meu passatempo.

Na época não se falava tanto em sustentabilidade, ou melhor, essa não era uma preocupação que rondasse muito os meus pensamentos, então eu usava a bicicleta só pra passear nos fins de semana. Eu nem sequer cogitava a possibilidade de fazer dela um meio de transporte!

Aí eu casei. E como todo ser humano que se preze, estava bem feliz com a minha vidinha a dois comendo, bebendo, dormindo e vendo TV para todo o sempre. A bicicleta foi aposentada e depois de anos juntando pó e ocupando espaço, me desfiz dela.

Acho que faz bem uns 10 anos (no mínimo) que eu não ando de bicicleta. E acabei de comprar uma. Elétrica. Pois é, eu sou meio doida mesmo. Na verdade, existem alguns motivos que me fizeram investir na magrela novamente:

  • Engordei uns 20kg nos últimos 2 anos e estou cada vez mais sedentária
  • Recomendação médica para me ajudar não só a perder peso, mas também a controlar a minha ansiedade
  • Atualmente eu trabalho a menos de 5km de distância da minha casa
  • Estou gastando uma graninha considerável com Uber e desconto em folha de pagamento de vale transporte para usar ônibus

Esses motivos, aliados ao fato de que eu detesto fazer academia e tenho pavor de puxar ferro, me fizeram ter vontade de voltar a pedalar. Porém, para quem não sabe, eu moro no topo de uma subida que deve ter uns 1.000 graus de inclinação (mentira, estou exagerando, não chega a tanto, deve ser só uns 950 graus…), e isso sempre me desmotivou a fazer qualquer tipo de exercício físico. Por isso pensei na bike elétrica.

Hoje foi o dia da estreia! Não consegui nem dormir direito, ansiosa, aflita, com medo de arregar no meio do caminho e não dar conta do recado. Saí de casa 10 minutos mais cedo por precaução e levei 20 minutos, no total, entre a saída da minha casa, percorrer os 3,8km, empurrar a bicicleta numa subida feladamãe, montar na magrela de novo, entrar na empresa, amarrar a bichinha no bicicletário e finalmente entrar na minha estação de trabalho.

Pois é, a bike é elétrica e eu pensei que ela funcionasse como uma espécie de motocicleta onde eu iria tranquilamente vencer as subidas da vida sem muito esforço. Ledo engano. O motor dá um help, mas se não pedalar, não existe mágica, você não sai do lugar.

Não morri, mas cheguei no trabalho suada, sem fôlego, com as pernas trêmulas. E eram 5h30 da manhã. Venci a primeira etapa, mas confesso que passei todo o expediente morrendo de medo do caminho de volta e da tal ladeira desgramada me esperando.

A volta não foi assim tão terrível como eu imaginei. Realmente não tive perna suficiente para subir a ladeira, empurrei a bike até o topo e isso me fez gastar 10 minutos a mais do que a ida. No total deu 50 minutos de exercício físico, acho que tá bom pra quem não faz absolutamente nada há, pelo menos, uns 2 anos.

Resultado da minha estreia: yes, I can! O corpitcho ficou cheio de endorfina, passei o dia bem, sem dores musculares absurdas, felizona por ter conseguido dar o pontapé inicial, porém já de cara furei o pneu da magrela. Sim, os astros devem estar de brincadeira comigo… Pausa para remendar o pneu e seguir pedalando em 2017.